sábado, 28 de agosto de 2010

As bicicletas

Elas nos remetem há algo perdido, antigo, nostágico.


Dicas do cotidiano - Omelete

Omelete

Explicando para o caderninho de receitas.


Anote aí:

Omelete é algo rápido pra quando se chegou cansada. Sempre ter verdinhos e ovos na geladeira garante essa saída prática, gostosa e que pode ser feita assim:

Comer a namorada cansada e depois logo servir a omelete!

domingo, 8 de agosto de 2010

Drª Paloma explica: o 69 em baixa no Canal Sexy !

Saiu na Coluna Gente Boa de Joaquim Ferreira dos Santos (O Globo, 06-o8-010) que uma pesquisa do Canal Sexy Hot deu o 69 em último lugar entre as posiçõers sexuais preferidas! Isso mesmo: Último!
Então não precisa ficar intimidada se você não gosta...Mas que depreciação para algo tão alardiado não?
E Joaquim Ferreira lembrou também de um crônica da Maitê Proença, de 2004, em que esta dizia não apreciar tal desconfortável posição.


É, eu sei que os contra são muitos... mas vou dar algumas dicas para levantar a moral do 69!


Discordando do que diz a Maitê Proença, o 69 não é para ser feito para dar conta de tudo de uma vez. Ao contrário, ele só funciona ao inverso; como um jogo de vamos fazer tudo bem devagar sem se preocupar em chegar ao final. Aliás, no caso do sexo o que atrapalha muito o prazer é a tal da vontade de gozar. Seria melhor se as parceiras dissessem "vamos brincar de não gozar? Quem gozar primeiro perde ponto"! ( O que vale para todos os tipos de combinação, hétero e homo como a Maitê também deixou claro, e Carlos Drumond de Andrade também!).
O barato do 69 é encontar a melhor posição para em total conforto e relaxamento as parceiras se sentirem num fluxo intenso e mágico de se sentir dando e recebendo prazer simultaneamente. Claro que algumas coisas complicam como o tamanho de cada uma! Não acedito que dê certo pra todo mundo não, imagina uma enorme e a outra pequenininha; esta pode morrer sufocada. E tem gente mesmo muito estabanada por natureza. Mas tirando isso, além da pressa, da preguiça e do próprio desinteresse pelo sexo que exite e muito por aí, o ideal não é ficar uma sobre a outra mas de lado. É bem melhor.
É tudo!
Basta que cada uma use como travesseiro a coxa da outra e assim sem uma necessidade de apoio dos braços e com a cabecinha confortavelmente apoiada, pode-se ficar horas ali sentindo apenas os lábios da amante em seu sexo enquanto explora tranquilamente o dela.
E digo horas de verdade, porque quando a brincadeira é boa quem quer que acabe logo?
A crônica está disponível em http://www.maite.com.br/cronicas/index.php?interna=6904 e é ótima.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sobre o casamento gay

A escritora Matha Medeiros escreveu esta semana em sua coluna dominical da Revista O GLOBO sobre o casamento gay com toda a delicadeza possível para os milhares de leitores que tem. Procurou não enfatizar visivelmente o termo "casamento", destacou sobretudo a liberdade de cada um viver como queira e criticou o preconceito .


No mesmo jornal, neste mesmo domingo, dia 1° de agosto, havia uma entrevista com o estranho John Waters. Cineasta, escritor e diferente de tudo por natureza, no Segundo Caderno se destacou uma frase sua:

"Hoje todo gay quer casar.Quando eu era jovem, ser gay significava comemorar a liberdade de não ter filhos,
não entrar no Exército por livre e espontânea vontade e
não precisar casar."


Disse esta figura adorável com 64 anos hoje.


Não conheço John Waters, não sou de sua idade nem norte americana mas me lembro bem que quando me entendi por gente o que eu não queria era obedecer aos padrões da sociedade moral burguesa classe média baixa suburbana que eu vivia. Isto significava ser uma mulher independente, fazer minhas escolhas profissionais, ter liberdade de ir onde quisessse, escolher ter filhos ou não e especialmente não me submeter a vontade de nenhum parceiro. Este desejo unia um pessoal meio estranho que não se enquadrava no modelo de comportamento vigente. Ser gay ou não era um item pessoal neste roll de desejos mais gerais.

Hoje levanto a bandeira do casamento gay porque desejo o respeito às escolhas, como levantou Martha Medeiros( o respeito às escolhas, seja dito!). Entendo também que se queira os direitos civis e a opção da adoção como casal. Mas também continuo não querendo viver padrões e este continua sendo o meu guia. Gostaria sim que a ênfase da discussão fosse mais o direito e menos a instituição casamento que venhamos e convenhamos no modelo tradicional já ruiu há tempos...Parabéns à luta pelo divórcio, que garantiu às mulheres principalmente o direito à emancipação do seu tutor-marido. Parabéns a tantas mulheres que ao se divorciarem saíram deste padrão casamento indissolúvel e foram viver suas vidas de forma independente, criando seus filhos e construindo relacionamentos mais reais baseados no amor. Parabéns ao amor que hoje não precisa se casar para demostrar que existe. Parabéns às idéias de casamento que significam companheirismo, verdade, prazer, muito prazer em estar junto. Seja em casa diferente, seja em casa compartilhada, seja com ou sem filhos, seja de duas mulheres, de dois homens ou de sexos opostos. E Evoé aos relacionamentos que mantém a verve do interesse de um pelo outro.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Safo era lésbica?

Não há documento antigo que confirme que Safo mantinha relações sexuais com mulheres. Nem nenhuma revelação bombástica da poetisa para uma revista reconhecendo que sua primeira relação homossexual foi com a cantora tal, que já beijou sim mulheres ou que não teria problemas em relação a isto. Segundo os estudiosos, não há confirmação alguma. Mas de onde vem então a relação entre a poetisa Safo, a ilha de Lesbos e a homossexualidade feminina?



De concreto, interpretações.


Safo nasceu na Ilha de Lesbos, por volta de 612 a.C., em Eresos. Foi uma mulher ativa e atípica numa sociedade que determinava às mulheres um espaço específico tanto na sociedade quanto na própria casa, o chamando gineceu. (Entretanto para ser mais correta historicamente as informações mais precisas sobre a questão feminina são de Atenas e não de toda a Grécia!). Teria criado uma escola de mulheres onde se adorava Afrodite e as Musas o que alimentou e alimenta o imaginário de muitos (e muitas!) como um lugar de erotismo e liberdade feminina.
Mas sua importância se fez sentir ainda em tempos antigos; num epigrama da Antologia Palatina atribuído a Platão este a denominava de “a décima Musa”. No século XI sua obra foi queimada pela Igreja. E, em fins do século XIX, dois arqueólogos ingleses descobriram em depósitos históricos no exterior da cidade greco-egípcia de Oxirrinco, no Egito central, sarcófagos envoltos em tiras de pergaminho, numa das quais eram legíveis uns 600 versos de Safo. Estes se juntaram a citações antigas abrindo um leque maior para o conhecimento da poesia de Safo.


Nestes fragmentos abertos a tantas traduções pois se trata de dialeto eólico antigo, percebe-se entretanto a singularidade de sua poesia lírica: a intimidade das relações, o sentimentalismo subjetivo, uma entrega ao amor, a presença de Eros. Foi da interpretação de seus fragmentos, junto com a mítica de sua personalidade que surgiu a associação entre ela e a homossexualidade feminina. E devo dizer que a própria perseguição fez dela um ícone deste amor. E quem precisa de confirmação para apenas se reconhecer neta destes sentimentos! Um dos seus fragmentos:

Mais alva que o leite
Mais suave que a água
Mais harmoniosa que a lira
Mais garbosa que o cavalo
Mais delicada que as rosas
Mais macia que o próprio manto
Mais preciosa que o ouro




Tradução apresentada no texto "Leituras de um fragmento de Safo". Autora: prof.ª Silvia Damasceno. Disponível em: http://www.heladeweb.net/N2003_2004/safo1.pdf. Acessado em 4/08/2010.



E no livro belíssimo Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes, que é composto por verbetes sobre a situação amorosa, no capítulo “A Languidez do amor”, ele cita Safo e considero primorosa a tradução de Hortênsia dos Santos:

“...pois desde que te vejo por um instante, não me é mais possível articular uma palavra: mas minha língua se quebra e um fogo sutil desliza de repente sob a minha pele: meus olhos não têm olhar, meus ouvidos zumbem, o suor escorre pelo meu corpo, um arrepio toma conta de mim; fico mais verde do que o capim, e por pouco me sinto morrer.”




O Ídolo das Origens

Antes de ser fuzilado pelos nazistas o historiador Marc Bloch questionou o que chamou até de “obsessão” dos historiadores: o ídolo das origens. Isto foi na década de 40 do século passado, mas até hoje esta “obsessão” está presente e especialmente partilhada: uma ânsia de saber dos inícios, do começo, dos primórdios.
No caso da homossexualidade feminina este ícone tem um nome tão profundo que gerou um termo definidor de uma prática e de uma categoria de pessoas: Safo de Lesbos.

Entretanto isto não explica nada porque uma das maiores dificuldades da história da sexualidade feminina é mesmo contar esta história. O que existe é um monte de lacunas. Se já é difícil refazer a trajetória da vida em tempos antigos, entender outros hábitos e comportamentos com poucas fontes, muito mais ainda isto se dá quando falamos das relações íntimas femininas.
O que acaba acontecendo sobre a homossexualidade feminina ocidental é partirmos das referências religiosas e médicas. A queima dos textos da poetisa Safo, os processos da Inquisição, a literatura médica tentando identificar comportamentos e anatomias, são exemplos das fontes utilizadas para recontar esta história. É uma história ao avesso. Feita pelo que se disse sobre e que tem seu registro porque era visto com estranheza, como anomalia, desvio ou indecifrável por pura ignorância.
E esta ilha maravihosa, montanhosa e paradisíaca passou a ser vista como berço da homossexualidade feminina. Fica no Mar Egeu.

quarta-feira, 28 de julho de 2010



Amores sáficos
Pra início de conversa: uma reflexão sobre a História.

Há certo pensamento de que as referências históricas à homossexualidade legitimizam de alguma forma a defesa dos direitos gays. Ao procurar antecedentes em diversos tempos incluindo sobretudo nomes ilustres busca-se encontrar uma normalidade nas diversas formas de relação e uma naturalização das práticas sexuais. Este pensamento entretanto tem um duplo viéis. Primeiro nos instiga a refazer uma questão que o historiador Marc Bloch fez e que veio através de uma pergunta de uma criança: “Pai, para que serve a história?” Por outro lado, nos faz refletir também sobre a necessidade de construir um discurso que justifique a homossexualidade dentro de uma sociedade que privilegia o modelo heterossexual e o domínio masculino sobre o prazer. Um discurso que precisa se solidificar com exemplos dentro das próprias relações de poder para se tornar aceito e reconhecido.


Bem, dito isto, e para que serve a história?


Não há nada de errado em utilizá-la para construção de identidades. Foi e é esse um papel essencial desta: construir uma identidade de um grupo a partir de um passado, uma ascendência, hábitos e costumes comuns. Também para servir de exemplo, sendo este um objetivo dúbio. Vemos admiradores de ditadores assassinos se proliferarem e saber sobre enormes guerras e atrocidades do passado parece não ter dado frutos... Entretanto, como diz também o grande mestre Boch, a história também serve apenas para divertir, para sanar nossa infindável curiosidade; seduz a nossa imaginação. E nos alimenta, nos faz imaginar como viveram tantas pessoas em outros tempos em outras realidades e assim refletir sobre a nossa vida, o nosso mundo. Afinal nossa efêmera vida é um mistério.

E sobre os discursos sobre a questão gay?
No Brasil ainda engatinhamos. Então sentemos nos ombros dos gigantes! Mais alto enxergaremos mais longe. Ou não. Façamos nossa própria história!
Referência bibliográfica: Bloch, Marc. Introdução à História. Publicações Europa-América. Col. Saber.